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Outubro Rosa

O interesse na obtenção de conhecimentos mais específicos na oncologia veterinária vem crescendo, principalmente pela elevada ocorrência dos processos neoplásicos nos animais de companhia. A prevalência de tumores está intimamente relacionada com a maior longevidade observada nesses animais.

As neoplasias mamárias acometem quase que exclusivamente as fêmeas, sendo rara ocorrência nos machos. Na espécie canina, é o segundo tumor mais observado, precedido apenas pelos tumores cutâneos. Quando consideradas somente as fêmeas, é a neoplasia de maior ocorrência.

A frequência dos tumores de mama em cadelas aumenta a partir dos seis anos de idade, com rara ocorrência em animais com menos de dois anos. A idade média para o surgimento dos tumores mamários é de nove a 11 anos. A princípio não existe predileção racial, mas alguns trabalhos apontam as raças Poodle, Dachshund, Pointer e Retrievers como as mais acometidas.

Mais que a metade das neoplasias observadas nessa espécie é de caráter maligno. As neoplasias benignas, em geral, surgem em idade mais jovem. Isso ocorre devido à procura tardia dos pacientes ao serviço médico veterinário, pois os tumores benignos podem evoluir e se transformar em malignos. No menor sinal de um nódulo em região mamária, o médico veterinário deve ser procurado imediatamente, aumentando, assim, a chance de cura e sobrevida do animal.

No momento do atendimento clínico, a pesquisa por metástase é bastante importante, pois cerca de 25% dos pacientes com neoplasia mamária maligna já apresentam disseminação do foco. A distribuição dos focos tumorais é determinada, em grande parte, pelas características anatômicas das veias e dos vasos linfáticos que drenam os locais onde se situam os tumores primários. A maioria dos tumores malignos nos animais, no entanto, resulta em metástase para os pulmões.

A existência de metástases torácicas, abdominais ou do tecido linfóide pode ser verificada com o auxílio de diagnósticos por imagem. A ultrassonografia é utilizada para avaliação de metástases abdominais, enquanto que a avaliação dos pulmões é realizada por meio do raio-x torácico em três incidências: latero-lateral esquerda e direita e ventro-dorsal. A imagem radiográfica demonstra a presença de nódulos bem circunscritos, radiopacos, mais frequentemente localizados nos lobo caudal e acessório. Hoje, já dispomos da tomografia computadorizada para detecção de disseminações menores que ainda não são visibilizadas no raio-x.

Quais as causas?

A etiologia do tumor mamário é controversa, sendo consideradas como hipóteses a influência da dieta e obesidade, transcrição gênica, componentes genéticos, estresse oxidativo e, principalmente, influência hormonal.

Do ponto de vista genético as neoplasias mamárias manifestam-se como esporádicas, familiares e hereditárias. Recentemente, fatores nutricionais, principalmente a obesidade, têm sido apontados como papel chave na suscetibilidade à neoplasia.

Em cães foi demonstrado que animais magros possuem menor ocorrência de câncer que os obesos. Desse modo, fatores nutricionais podem ter papel no desenvolvimento do tumor de mama, em particular antes do primeiro ciclo estral, nos primeiros meses de vida. A obesidade no primeiro ano de vida, assim como um ano antes do diagnóstico, pode predispor as fêmeas às neoplasias e piorar seu prognóstico.

O componente etiológico hormonal é hoje o principal fator estudado, particularmente pelas diferenças significativas de incidência tumoral entre cadelas castradas e não castradas. O risco de aparecimento desse tumor nas cadelas castradas antes do primeiro cio é de 0,05%, 8% após o primeiro e após o segundo o risco aumenta para 26%. A proteção conferida pela castração desaparece após o terceiro cio, quando nenhum efeito é obtido. Assim, a castração precoce das fêmeas é considerada como o melhor fator protetor para os tumores de mama.

Os hormônios envolvidos na carcinogênese mamária incluem o estrógeno, a prolactina, a progesterona, os andrógenos e até os hormônios tireoidianos. No entanto, a participação dos hormônios na carcinogênese se restringe à proliferação das células já transformadas por outros carcinógenos.

Receptores de estrógeno e de progesterona têm sido identificados nas cadelas em mama normal, neoplasias benignas e carcinomas. A presença desses receptores no núcleo de células tumorais é sinal claro da dependência hormonal dessas neoplasias, principalmente quando há presença dos dois receptores ao mesmo tempo.

Trabalhos utilizando técnicas de imunomarcação em tumores de mama de cadelas constataram que 70% dos tumores benignos e cerca de 40% a 60% dos malignos possuem receptores para estrógeno ou progesterona. Deste modo, quanto menos diferenciada a neoplasia, menor a expressão dos receptores hormonais e maior a autonomia das células neoplásicas, tornando pior o prognóstico da cadela.

Em cães e gatos a progesterona exógena, utilizado na maioria dos anticoncepcionais, estimula a síntese de hormônio do crescimento na glândula mamária, com proliferação lóbulo-alveolar e consequente hiperplasia de elementos mioepiteliais e secretórios, induzindo a formação de nódulos benignos em animais jovens. Tais alterações, no entanto, podem predispor o tecido a uma transformação maligna.

A pseudociese (gravidez psicológica) ocorre na fase de diestro, quando há um aumento na concentração de progesterona que tem como função a supressão da atividade do miométrio, crescimento das glândulas endometriais e promoção do desenvolvimento das glândulas mamárias. Após sete dias do final dessa fase haverá diminuição da concentração da progesterona e um aumento da concentração de estrógeno e prolactina. Nos casos de pseudociese recorrentes ou após a lactação as concentrações de prolactina estão elevadas, o que causa retenção láctea predispondo à formação de neoplasias mamárias.

Finalmente, todos os tumores cuja indução tenha ocorrido através de um suporte hormonal tendem a se tornar autônomos. Essa autonomia, fase final desse tipo de carcinogênese, é característica comum aos tumores hormônios-dependentes. Quando essa fase ocorre, morfologicamente já houve perda das características de diferenciação celular da linhagem de origem.

A obtenção do diagnóstico definitivo, assim como o estabelecimento do prognóstico e posterior avaliação da medida terapêutica, depende principalmente do diagnóstico histopatológico e do estadiamento clínico do tumor; este último instituído pelo sistema tumor-linfonodo-metástase. A cirurgia é a medida terapêutica de eleição para as neoplasias mamárias, devendo ser realizada com ampla margem de segurança, o quanto antes. Esta é a forma de tratamento que confere maior sobrevida para cadelas, pois, até o momento, os protocolos descritos na literatura utilizando fármacos antineoplásicos e/ou radioterapia sozinhos são pouco efetivos. Nos humanos, as neoplasias têm seu prognóstico influenciado por variáveis ambientais, demográficas e socioeconômicas. Acredita-se que o tumor de mama da cadela, a exemplo do que acontece nas neoplasias mamárias da mulher, também sofra a influência de tais fatores.